31 agosto 2005

Horizonte


Sinto-me constantemente numa véspera de despertar, sofro-me o invólucro de mim mesma, num abafamento de conclusões. De bom grado gritaria se a minha voz chegasse a qualquer parte. Mas há um grande sono comigo, e desloca-se de umas sensações para outras como uma sucessão de nuvens, das que deixam de diversas cores de sol e verde a relva meio ensombrada dos campos prolongados.
Sou como alguém que procura ao acaso, não sabendo onde foi oculto o objecto que lhe não disseram o que é.
Conhecer outras terras outros horizontes nunca é fugir. Não é o lugar que cria o sentimento, é o sentimento que o faz. È bom poder voar assim livremente, mas ainda melhor é ter sempre um porto de abrigo.
É preciso descobrir que a harmonia está dentro de nós e que apenas nós possuímos a chave secreta, embora existam pessoas que pensam que outro alguém possui essa chave e outros ainda nem desconfiam que essa chave existe…

30 agosto 2005

Olhando


Assim sem esperar dou comigo novamente aqui, sentada, os meus dedos perto do teclado ganham vida e eu porque a liberdade existe nada faço…
Porque tu? Ainda não sei a resposta, mas quero que saibas que não odeio a regularidade das flores em canteiros. Odeio, porém, o emprego público das flores. Se os canteiros fossem em parques fechados, se as árvores crescessem sobre recantos feudais, se os bancos não tivessem alguém, haveria com que consolar-me na contemplação inútil dos jardins?
Mas há dias em que esta é a paisagem que me pertence, e em que entro como um figurante numa tragédia cómica. Nesses dias estou errada, mas, pelo menos em certo modo, sou mais feliz.

29 agosto 2005

Olhando


Hoje consigo ver a lua, parece imóvel no céu, como que escutando… as estrelas viajam, ignorando a terra adormecida. O mundo todo está dormindo, e só eu estou acordada… Fecho os olhos para ver melhor o que minha mente desenha, o que minha alma sente…
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem. A vida apenas, sem mistificação.

Fala a Loucura

Detesto amarelo. Detesto todos os sinais da Primavera. Não sabes que só estou feliz quando estou deprimida? Não sabes que só estou feliz quando me visto de negro? Que só estou feliz à noite. Sim. Sou uma criatura da noite. Dar a toda a gente o aspecto mais inofensivo possível, fazer com que toda a gente se acomode o mais possível — apesar de quem veste aquela roupa em sólidos tons pastel limão verde-vómito verde-pálido rosa alperce, que vai bem com qualquer outra peça, ser por dentro tão ofensivo quanto possível. Será que quero que toda a gente tenha o mesmo aspecto, para que venham talvez a sentir o mesmo e se tornem então mais fáceis de controlar, de dominar.
A vida segue dentro de momentos....

23 agosto 2005

Beijos de Alma

A MINHA FONTE DE POESIA:

Minha culpa

Sei lá! Sei lá! Eu sei lá bem
Quem sou? Um fogo-fátuo, uma miragem...
Sou um reflexo... um canto de paisagem
Ou apenas cenário! Um vaivém

Como a sorte: hoje aqui, depois além!
Sei lá quem sou? Sei lá! Sou a roupagem
De um doido que partiu numa romagem
E nunca mais voltou! Eu sei lá quem!...

Sou um verme que um dia quis ser astro...
Uma estátua truncada de alabastro..
Uma chaga sangrenta do Senhor...

Sei lá quem sou?! Sei lá! Cumprindo os fados,
Num mundo de maldades e pecados,
Sou mais um mau, sou mais um pecador...

Florbela Espanca

Primogénito

Um primeiro post aberto como se de uma leve aragem de vento se tratasse... estou viva.