31 março 2009

Hoje...

Estranho-me quando sinto esta tranquilidade na minha consciência mas a verdade é que não há melhor sensação nesta vida que a paz interior… será por isso que a vida é tão efémera…
Não vou falar de felicidade ou da sensação de realização plena que o mundo inteiro apregoa como a busca máxima de uma existência…. O que eu penso é algo simples mas de uma simplicidade que incomoda… chega até a ser estúpida…
Porquê dizer amar em vez de gostar? Porquê dizer adeus em vez de até breve?
É nestas enormes diferenças de palavras que se criam sombras que nos perseguem vida fora… hoje uma dúvida, amanhã uma questão… e a não certeza dura… alonga-se… arrasta-se lentamente cobrindo toda a nossa existência, assim tão lentamente como quando a noite invade a luz do dia…
Gostava por vezes de possuir a capacidade de me trivializar, de me banalizar um pouco e ceder ao movimento irracional… no entanto o meu coração é um vasto cemitério e o peso na consciência a corda que me irá enforcar….
Ensinaram-me o eterno presente… e eu… acreditei…

22 março 2009

Pena de mim...

Não tenho ou sinto qualquer pena de mim...
não sintam ou tenham pena de mim...
eu própria não valho a pena...
os segundos contorcem-se ao tic tac do relógio e o pano de fundo com aquela música repetitivamente confrangedora, inquieta-me... como um gosto de me torturar!Dá-me um certo gozo, admito, testar os meus limites, a minha capacidade de auto-superação... sinto que por vezes a minha mão é domada por uma força que me é desconhecida e que a impele a juntar estes caracteres sem qualquer significado... que desperdício de minutos… viver a vida assim pelas palavras... como seria a realidade se todos os nossos desejos se realizassem?Haveria muito menos gente no mundo certamente. Garantida, só a morte e o esquecimento... Morrer todos morremos um dia, mas só alguns conseguem viver… pergunto-me onde está o lugar dos que não morrem (ou não morreram ainda) mas que também não vivem? …Onde ficam os lugares dos espectadores desta grande peça de teatro?
não sintam ou tenham pena de mim...
eu própria não valho a pena...
hoje sinto-me assim como esta ruela abandonada no tempo...

17 março 2009

Recomeçar...



De novo tudo começa,
como um ciclo da natureza,
a vida é uma gota de água que corre pelos rios,


no caminho evapora-se
e assim aparecem as nuvens


que depois mais tarde voltam com a chuva
e de novo correm pelo rio.

15 março 2009

Histórias para adormecer...

Hoje, vou contar-te uma história que inventei antes de adormecer:
Era uma borboleta que queria muito ser uma chamuça, daquelas que tem três bicos, com pele dourada e estaladiça e cheiram a caril . Um dia ao voar, caiu dentro de uma frigideira e quando deu por ela estava a ser servida pela cozinheira com arroz basmati. Ninguém à mesa do restaurante, a não ser a pequena Maria, deu conta da distracção da cozinheira. Só ela notou que a chamuça não tinha nem três bicos nem a pele estaladiça! Ao invés disso era uma chamuça colorida que se contorcia aflita por entre os grãos de arroz. - Tu não és uma chamuça verdadeira, pois não? – Perguntou-lhe a pequena Maria. - Sou! Ou melhor, queria muito ser. Achas que se nota muito? – Retorquiu-lhe baixinho a borboleta. - Não tens três bicos! – Respondeu-lhe escandalizada a pequena Maria – Mas se quiseres posso comer-te e dizer no final que és uma chamuça deliciosa. - Fecha os olhos e saboreia-me. Vais ver que não notas diferença. A pequena Maria trincou delicadamente a borboleta que queria muito ser uma chamuça. Saboreou cada cor, cada pedacinho dela e no final do jantar já tinha bocadinhos de borboleta a esvoaçar dentro dela pela altura do umbigo!
Não contente e porque nunca conheci uma borboleta destas, decidi que era uma vez uma chamuça que queria muito ser borboleta! Um dia, alinhada com as irmãs numa travessa de metal, veio uma menina que a segurando delicadamente entre os dedos - para não deixar cair migalhinhas ao chão - a trincou e num fechar de olhos a comeu toda! Foi assim que a chamuça se tornou uma borboleta enquanto viajava até ao estômago da menina. No dia seguinte a menina sentia cócegas na barriga e pediu à mãe que lhe fizesse uma rede de chocolate. A mãe não estranhou o pedido pois sabia que borboletas esvoaçantes só se apanham com uma rede pequenina e doce! E pronto, acabou-se a história que afinal não é uma mas duas!
2009/03/14 - Garamond