25 fevereiro 2014

Vazia...

Fomos duas rotas, dois trajectos, demo-nos ao tempo que nos abrigou e dele fizemos breves instantes de alegria e prazer, fomos o que o tempo despejou e não quis. Atravessamos cidades, foi meu o teu princípio e teu o meu fim, vimos tanto vazio e quanto mais ruído mais se via o vazio.
A cidade estava tão triste, mas naquele lugar havia um porto seguro, havia o toque, havia o beijo, havia palavras, as boas e as más, as inúteis e as de morte, era preciso tudo, dar tudo para cairmos de rastos no vazio.
Num instante a vida cuspiu-nos para um canto qualquer e ali estávamos, o teu corpo diante do meu, nós duas, sem distância que interpõe o sonho e a crueldade, o teu corpo nu oferecendo-se agora a minha boca, fizemos o que nos foi pedido, foi um instante roubado ao tempo, fomos uma rota, um trajecto, um acidente, uma certeza que não haveria distância entre os nossos corpos.

Mas hoje estou tão vazia como o último copo da prostituta que não teve ninguém…

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